Entrevista com o duo MODULAR DREAMS para Madre

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Arte em forma de vídeo, além da “modinha”.

MADRE.BUZZ  entrevistou Modular Dreams, duo de videoartistas de SP. Priscilla Cesarino (PRX) e Danilo Barros (BZO) falam um pouco sobre o processo criativo, inspirações e sobre fazer aquilo em que acreditam.

BZO/PRX

O que é o Modular Dreams e como ele surgiu?

Somos amigos desde os 16 anos, crescemos partilhando dos mesmos gostos por músicas, artistas e filmes diferentes e estranhos. Tanto tínhamos coisas em comum que seguimos a mesma carreira no território da criação e da produção audiovisual. Agora, há 1 ano, criamos juntos o estúdio Modular Dreams, onde materializamos nossa busca pelo processo de criação e manipulação de imagens de uma forma mais orgânica e artesanal. Geramos e manipulamos imagens através dos circuitos eletrônicos, como os vídeo-sintetizadores, e registramos todos os nossos experimentos. Desses registros extraímos imagens que viram quadros impressos, instalações, vídeos, performances ao vivo e estampas. Acreditamos na coesão conceitual, no minimalismo e na singularidade de cada imagem que geramos e no impacto profundo das suas cores e brilho. Trabalhamos todas as possibilidades de cada imagem. Acreditamos também que amar aquilo que se faz com verdade e executar com disciplina e dedicação são atitudes fundamentais para seguir nessa pesquisa.

Ferramentas. Qual é a sua "weapon of choice"?

Geramos nossas imagens com módulos de sintetizadores de vídeo. Essa é uma história que vem desde 2004: depois de tomar conhecimento de sua existência e começar a aprofundar nossa pesquisa, começamos a desejá-los e a namorar os módulos no formato EuroRack e entramos na fila do lançamento dos módulos LZX. Quando começaram a vender já havíamos economizado o suficiente e o Danilo foi até o Texas buscar pessoalmente os módulos e conhecer o Lars Larsen, o gênio doido que é o grande responsável pela volta dos sintetizadores de vídeo. Além disso, também usamos câmeras de diversos tipos como miniDVs, DSLRs, máquinas fotográficas digitais, celulares, VCRs de VHS, DVD players, vídeo mixers, laptops, televisões de tubo, monitores, projetores. Usamos também uma série de softwares como Final Cut Pro, Photoshop, Modul8, MadMapper. Enfim, podemos usar uma gama bem vasta de ferramentas (ou não) se for necessário para a realização de um determinado projeto. E sempre estamos prontos para conhecer coisas novas – ou antigas (risos).

E as inspirações? 

São várias, tudo é inspiração, presente, passado e futuro. Nossas vivências e experiência de vida são muito importantes no processo; a cidade é inspiração, as ruas, as contra-culturas urbanas. Os nossos amigos nos inspiram o tempo todo, todos sempre muito criativos, obcecados por coisas freaks e únicas; a música e o som são essenciais, a arte libertária e os artistas que amamos como os fantásticos pioneiros da vídeo-arte, inspirações diárias e fontes riquíssimas! A história do homem e sua relação com as imagens, o cinema, a evolução do vídeo e da televisão, a ficção científica, o cyber-espaço e a natureza são inspirações…enfim, tudo, tudo…

O que vocês acham da cena audiovisual no Brasil?

A cena audiovisual é algo tão amplo que fica difícil dizer. Da televisão ao cinema, da performance ao teatro, passando pelas artes gráficas, artes-plásticas, música, desenho sonoro e internet… tem tanta coisa que dar uma palavra final sobre a cena audiovisual brasileira requer conhecimento que não temos. Mas sabemos que a cena experimental de visualistas é incrível e que tem muita gente boa e criativa na cena audiovisual, e que rala muito! Também sabemos que cultura e arte, infelizmente, não recebem o devido valor e reconhecimento de nossas instituições oficiais (salvo muito, muito pouco). É uma pena, pois esse tipo de atividade tem o poder de gerar enorme riqueza, conhecimento, melhorar o relacionamento entre as pessoas e atuar como um importante catalisador de mudanças sociais benéficas. Mas também não gostamos da atitude passiva de ficar só reclamando, nós vamos atrás dos nossos sonhos com paixão e ética.

 

Por onde o MD anda? Quais eventos vocês frequentam? 

Olha, nesse período todo do MD estamos bem caseiros, ou pelo menos bem mais caseiros do que nos últimos anos. Gostamos bastante de passar nosso tempo no estúdio trabalhando e, depois, apresentando esse trabalho, seja nas feiras de arte impressa, nos shows ou nas festas. Mas nós, podem ter certeza, ja andamos muito por aí, por todos os bairros dessa cidade imensa que é São Paulo, explorando dia e noite e absorvendo essa realidade massiva.

No fim dos anos '90 e começo dos 2000 vimos todo o processo de apropriação em massa da cultura underground, eletrônica e clubber, e participamos ativamente como pioneiros do movimento atual de apropriação artística da cidade, operando vídeo-performances em diversos espaços da cidade, lugares inusitados, ocupações. Também participamos de diversos coletivos e colaboramos com  vários artistas e por aí vai. Mas desde que nos conhecemos gostamos de ir a exposições, cinema, teatro, parques, adoramos viajar entre amigos para a praia ou campo, de vez em quando comer fora ou na casa de alguém.

O que vocês agregam e de que forma se destacam na cena cultural? 

Destacar não sei. Agregar, esperamos! (risos) Nós temos várias frentes e vários objetivos em mente. Na questão de performances ao vivo, pensamos em nos afastar daquele padrão de VJs e produtores que apenas se colocam na posição de decoradores de parede, muitas vezes subestimando a atenção do público. Só aceitamos convites onde as imagens tenham um peso igual de profundidade na atenção que o público destinará àquele trabalho. Na maioria das vezes não aceitamos convites como Modular Dreams, para preservar o nosso trabalho e valorizá-lo um pouco mais mesmo. Somos parte do coletivo Laço, com eventos semestrais de artes visuais de grande porte no subsolo do Paço das Artes – USP. Também realizamos algumas intervenções em pontos de impacto na arquitetura de São Paulo.

Até que ponto o MD é analógico, e qual o impacto disso hoje em dia?

 

Todos os projetos do estúdio MD partem da composição de imagens utilizando vídeo sintetizadores analógicos e usamos uma série de outras ferramentas que são feitas com eletrônica analógica, mas nós não nos limitamos a esse tipo de tecnologia. Para nós não existe uma tecnologia – analógica ou digital, que seja melhor que a outra; elas são simplesmente diferentes e possuem características próprias.


Também não acreditamos que uma tecnologia seja coisa do passado e outra do presente ou do futuro, acreditamos que os dois tipos de tecnologia sempre vão coexistir, e uma irá inspirar a outra e a mistura entre elas também será muito bem-vinda. O que nos fez tomar esse ponto de partida para o estúdio MD foi o fato de que a tecnologia analógica é mais orgânica, e que a maior parte das imagens eletrônicas geradas hoje em dia são digitais, e esse processo que adotamos nos obriga a pensar de forma diferente e isso é essencial para que a gente consiga criar algo próprio e que não siga simplesmente alguma cartilha criada por alguém ou alguma instituição, alguma tendência comercial ou “modinha”.

 

Quem vocês gostariam de receber em seu estúdio e o que seria oferecido à visita?

Hahaha… hmmm Alejandro Jodorowski? Genesis-p-Orridge? Masami Akita? Skinny Puppy? Talvez podemos aproveitar para fazer o convite a alguém aqui do Brasil… Fernanda Montenegro? (risos).

Instalação "Modular Patterns" no museu da USP.

Onde ver online?
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Origami Side

Origami Side é um projeto audiovisual criado em 2012 pelo produtor Alex Sakata e a VJ Oga Julia, que tem como base elementos orientais minimalistas tanto na composição sonora quanto imagética. Buscando resgatar tradições de seus antepassados ao contexto atual, a dupla proporciona experiências sinestésicas estimulantes e transporta o espectador para um outro lado, o Origami Side. AV performance from the other side.